Persefonia: Estudo N°03

PERSEFONIA – ESTUDO No 03 é um trabalho de dança que investiga as frágeis fronteiras entre presença/ausência, aparecimento/desparecimento tendo como base o estudo das obras fotográficas de Francesca Woodman e o poema “Zona Hermética”, de Manoel de Barros. Trabalhando a ideia de que ver é sempre uma acão cindida, fraturada pelo que nos olha, o espetáculo maneja uma cena fantasmática focando no que ali lhe é residual: restos de memória, gestos abortados, gozo decantado, significantes ouvidos, nem sempre entendidos… Persefonia busca, tendo a queda como eminência, construir um dançar como espaço de testemunho desse universo fantasmático que define os contornos a partir do qual construímos nossos corpos, principalmente os corpos femininos, se interrogando sobre a instabilidade dessas construções. Como parte do processo criativo, Carla Andrea Lima realizou, em 2017, 2018 e 2019, residências com Yoshito Ohno, no Kazuo Ohno Dance Studio, no Japão.

 

FICHA TÉCNICA:
Concepção, criação e atuação: Carla Andrea Lima
Colaboração no processo criativo do estudo no 03: Gui Augusto e Yoshito Ohno
Colaboração no processo criativo dos estudos no 01 e 02: Vivian Vieira.
Colaboração artística no estudo no 02: Alexandre Molina
Projeto de Luz: Alexandre Molina
Figurino e Cenografia: Carla Andrea Lima e Gui Augusto
Programação visual: Gui Augusto

Parceria: Litura coletivo de Pesquisa e Criação nas Artes da Cena

BREVE CURRÍCULO:
Carla Andrea Silva Lima é dançarina e atriz com projetos desenvolvidos em dança, performance e teatro. Investiga as poéticas da corporeidade na cena contemporânea; os modos de conceituar e investigar o corpo em movimento assim como a zona fronteiriça entre ação física e movimento. É professora do Departamento de Artes Cênicas e da Pós-Graduação em Artes da Universidade Federal de Minas Gerais. Doutora em Artes (UFMG), é pesquisadora do grupo de pesquisa CRIA: Artes e transversalidades e coordenadora do Litura Grupo de Pesquisa e Criação nas Artes da Cena. Dirigiu os espetáculos Solo para coisas quase esquecidas, Silet, Carta ao avô e Escabelo. Criou e participou dos espetáculos Caso um, Fuga: um quarto para si e Persefonia. Autora do livro “Corpo, pulsão e vazio: uma poética da corporeidade”, publicado pela Editora Annablume.

Poema “Zona Hermética”, de Manoel de Barros
De repente, intrometem-se uns nacos de sonhos;
Uma remembrança de mil novecentos e onze;
Um rosto de moça cuspido no capim de borco;
Um cheiro de magnólias secas.
O poeta procura compor esse inconsútil jorro;
Arrumá-lo num poema; e o faz.
E ao cabo Reluz com a sua obra.
Que aconteceu? Isto: O homem não se desvendou, nem foi
atingido: Na zona onde repousa em limos
Aquele rosto cuspido e aquele
Seco perfume de magnólias,
Fez-se um silêncio branco…
E, aquele
Que não morou nunca em seus próprios abismos
Nem andou em promiscuidade com os seus fantasmas
Não foi marcado.
Não será marcado.
Nunca será exposto
Às fraquezas, ao desalento, ao amor, ao
poema.

POESIAS, 1956,
in Gramática Expositiva do Chão

Imagem: momagraf/monicamartins

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